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Redução + Supressão + Abolição de trabalhos ornamentais + Sintaxe de imagens = Ultraísmo

REDUÇÃO + SUPRESSÃO + ABOLIÇÃO DE TRABALHO ORNAMENTAIS + SINTAXE DE IMAGENS = ULTRAÍSMO *




Diego Neivor Perondi Meotti **



O Ultraísmo foi um movimento artístico que teve início na Espanha em 1920, criado por Rafael Cansinos-Asséns. Na visão de Asséns o Ultraísmo seria uma vanguarda em constante transformação, se adaptando as novas ideias que surgiriam. Todavia, no manifesto do Ultraísmo, Anatomia do meu Ultra, Jorge Luis Borges [1] busca especificar as características desta vanguarda, além de argumentar sobre alguns aspectos do contexto literário do seu país. Tais apontamentos levantam problematizações como: qual a forma com que os ultraístas viam o movimento literário vigente na Argentina no período? Quem era o público e como este acessava os trabalhos? Além disso será analisado um dos aspectos da poesia ultraísta, a utilização de imagens nos poemas, buscando assim compreender como tal característica afeta os trabalhos dos intelectuais.

Em 1920 a estética artística vigente na Argentina era segundo Borges o rubenianismo, um movimento literário que teve início por Rubén Dário. Seu estilo se espalhara pelo país, aumentando consideravelmente o número de escritos que redigiam seus trabalhos no seu formato, perdurando por mais de uma década. No manifesto, Borges descreve tal movimento como “aniquilado” e “acabado”, sustentando tal opinião pelo fato de muitos dos artistas rubenianos não seguirem completamente a estética de Dário; outro fator apontado por Borges está ligado a mercantilização da arte moderna, quando estes colocavam a venda seus sentidos e as suas emoções tão facilmente, além de reproduzi-las: “Já sabemos que, manipulando palavras crepusculares, sugestões de cores e evocações versalhescas ou helênicas, obtêm-se determinados efeitos, e é por-fia desatinada e inútil continuarmos fazendo a prova eternamente. (BORGES. p.108)”.

Esta atitude crítica negativa é própria dos manifestos das vanguardas, pois, segundo Viviane Gelado em O Manifesto de Vanguarda na América Latina a negação e a crítica aos movimentos vigentes “esgrime-se como meio de refutação e negação social e estética” (GELADO. 2006. p. 211); além disso, é apontando por Jorge Schwartz em Vanguardas Latino-Americanas: Polêmicas, Manifestos e Textos Críticos que é característico das vanguardas a ideia de ruptura, de transformação na forma de fazer arte, sendo o ataque crítico uma das formas utilizadas pelos artistas para promover o seu trabalho na Europa e na América Latina.

Porém, Gelado destaca que tal atitude “agressiva” ocorreu de forma mais branda na América Latina:


Com efeito, em uma estrutura social tão fortemente polarizada como a latino-americana, o destinatário privilegiado do discurso vanguardista continuava sendo a mesma “minoria seleta”, letrada, recortada e (in)formada pelo Modernismo em Hispano-América e pelo Simbolismo e o Parnasianismo no Brasil. O perfil de um público mais numeroso e diversificado aparece bastante borrado na maioria dos manifestos da vanguarda latino-americana, quando não como uma descoberta a ser feita, nos casos de Terra roxa... e outras terras e A revista. Em conseqüência, o papel da burguesia, como alvo privilegiado dos ataques da vanguarda européia, é desempenhado, nos manifestos da vanguarda latino-americana, seja por poetas passadistas e a burguesia provinciana – Estridentismo, Ultraísmo, Manifesto da Poesia Pau-Brasil, etc. (GELADO. 2006. p. 201)


O fato de apenas uma pequena parcela da população ter acesso a uma educação de qualidade afetou diretamente a disseminação do Ultraísmo na Argentina. Borges aponta no manifesto certos fatores que nos elucida sobre este fato. No trecho Mural Prisma N° 2 é expressado no primeiro parágrafo que os poemas ultraístas são não somente lidos por uma pequena parcela da população, mas também apenas uma pequena parte destes buscam compreender e se satisfazer com as poesias (p.114). Para tal fato é possível lançar algumas hipóteses do porquê disso ocorrer.

A primeira possibilidade estaria ligada ao fato de que a corrente artística do rubenianismo mantinha sua força e certo prestígio público quando escreve “a voluntária incompreensão dos poucos” (BORGES. p.114). Um segundo motivo poderia estar relacionado à forma de divulgação dos trabalhos, como “Os cantos i os museus para a velha arte tradicional” (BORGES. p. 114). Publicados através de murais e de algumas revistas vanguardistas na Espanha e na Argentina, impossibilitando assim um maior acesso. Um terceiro fator referente ao tema diz respeito à complexidade dos seus poemas. Borges busca elencar e definir o perfil da lírica ultraísta enumerando quatro atributos:


1° Redução da lírica ao seu elemento primordial: a metáfora.

2° Supressão de frases de recheio, dos nexos e dos adjetivos inúteis.

3°Abolição dos trabalhos ornamentais, do confessionalismo, da circunstanciação, das prédicas e da nebulosidade rebuscada.

4° Síntese de duas ou mais imagens em uma, ampliando desse modo a sua faculdade de sugestão. ( p. 109)


Tais atributos parecem ter sido construídos como uma reação contrária à literatura da modernidade, tomando um posicionamento crítico oposto à estética rubeniana pois, segundo Borges, a arte moderna “magnifica” e “agiganta” o uso das metáforas, enchem seus poemas com palavras com o propósito de apenas possuir uma métrica segundo um estilo já desgastado.

Aqui a discussão chega ao uso de imagens na vanguarda, que a meu ver, é o grande diferencial do movimento, pois, o Ultraísmo é um movimento artístico que trabalha exclusivamente com a poesia. Entretanto, isso não impediu os intelectuais de transformar palavras em imagens, trabalhando assim com diferentes linguagens, como a ótica e a semiótica.

Figura 1 Triangulo Armónico

Figura 1: Triangulo Armónico (de Vicente Huidobro)

figura 2 Helicóptero

Figura 2: Helicóptero (de Vicente Huidobro)

Os dois poemas de Huidobro são exemplos para se discutir sobre a quarta característica dos poemas ultraístas. Nem todos os poemas desta vanguarda eram produzidos com o intuito de formar imagens, alguns como Primavera de Juan Las ou Epitalamio de Heliodoro Puche não utilizaram os espaços em branco de forma tão destacada quanto os de Huidobro. Todavia, esta alternativa torna a compreensão dos poemas ultraístas mais complexas e interpretativas. Ora, o fato de uma poesia possuir três elementos para interpretá-lo – título, poema e a imagem que é formada pelo poema e pelos espaços vazios – complexifica a formação de uma visão universal sobre o significado da poesia, tornando-a assim seu entendimento subjetivo de cada grupo e leitor.

A forma como foi elaborada a estética lírica do Ultraísmo lhe permitiu que possuísse um traço que é particular das vanguardas. O fato do poema ultraísta não utilizar os métodos convencionais da poesia, como a métrica e a rima, torna a sua tradução e assim divulgação para o público estrangeiro mais simples, pois os poemas ultraístas não buscam a perfeição da métrica, o engrandecimento com metáforas ou a venda de suas obras, mas sim buscam escrever sobre seus sentimentos, arte pela arte.


Referências:


BORGES, Jorge Luis. Anatomia do meu Ultra. In SCHWARTZ, Jorge. Vanguardas Latino-Americanas: Polêmicas, Manifestos e Textos Críticos. – São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo: Iluminuras: FAPESP, 1995. p.107-115


GELADO, Viviane. O Manifesto de Vanguarda na América Latina. Sínteses - Revista dos Cursos de Pós-Graduação Vol. 11 p.193-214. 2006.


HUIDOBRO, Vincente. Helicóptero. Figura 2. 451 pixels. 310 pixels. 23,6 Kb. JOG. Disponível em: < https://claseshipermedia.wordpress.com/tag/ultraismo/ >. Acessado em: 27 DEZ 2016.


HUIDOBRO, Vincente. Triangulo Armónico. Figura 1. 647 pixels. 600 pixels. 44,3 Kb. JOG. Disponível em: < https://claseshipermedia.wordpress.com/tag/ultraismo/ >. Acessado em: 29 DEZ 2016.


SCHWARTZ, Jorge. Introdução. In ____________. Vanguardas Latino-Americanas: Polêmicas, Manifestos e Textos Críticos. – São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo: Iluminuras: FAPESP, 1995. p.29-71


Notas


* Ensaio elaborado para o componente curricular Modernismo e Vanguardas, ministrada pelo professor Dr. Ricardo Machado, em 2016/2, 6° semestre.


** Acadêmico do curso de História da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Chapecó. Contato: diego_meotti@hotmail.com


1 A análise será feita a partir da visão de Borges quando este escreveu o manifesto, suas opiniões a posteriori não serão levantas no trabalho.






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