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Educadores e formação docente

­­­EDUCADORES E FORMAÇÃO DOCENTE

Luiz Adair Silveira[1]

Resumo

O presente texto tem como finalidade, a partir da visão de Vera Maria Candau, apresentar uma reflexão sobre formação continuada de professores(as), tendo em vista as dificuldades que existem no processo de formação destes(as) profissionais da educação, já que o processo de formação escolar atual, seja na escola regular, seja no ensino superior, requer muita reflexão. E, diante das dificuldades que o sistema de ensino enfrenta atualmente, a professora Vera, ao refletir acerca deste tema tão complexo, sugere alternativas que proporcionam aos(às) educadores(as) a descoberta de novas metodologias de ensino que, se aplicadas corretamente no universo estudantil, irão contribuir de forma muito positiva na continuidade da formação dos docentes, fazendo com que estes possam contribuir de forma efetiva no que se refere a melhorias no sistema de ensino. Para afirmar a importância da formação continuada, a professora faz referência a muitos fatores que, na maioria das vezes, dificultam o desenvolvimento de uma educação de qualidade, fatores estes que serão pauta para a abordagem no decorrer deste texto.


Palavras-chave: Educação; reflexão; metodologias.

INTRODUÇÃO


Atualmente, o Brasil está atravessando um período de grande turbulência econômica, diante da crise que se instalou atingindo praticamente todos os setores da economia, tanto no setor privado, quanto no setor público, o que gera muita insegurança na população brasileira. Esta terrível crise que aos poucos foi se instalando na sociedade brasileira, e que agora se efetivou de uma vez por todas, começa a ter reflexos negativos em vários setores como: o sistema de segurança, saúde e principalmente o sistema educacional, um setor que está defasado e que vem enfrentando sérios problemas. É claro que todos os setores são importantes, mas a educação talvez seja o setor mais prejudicado porque todo cidadão envolvido nos demais setores econômicos do país passa pelo processo de formação escolar.

Diante da realidade que aí se apresenta, busca-se de todas as formas um caminho que possa melhorar o sistema educacional em todos os aspectos, com vistas a melhorar e solidificar o sistema de ensino/aprendizagem transformando-o em um espaço em que o resultado das atividades desenvolvidas nas instituições de ensino se traduza naquele conhecimento em que o cidadão se torne apto a inserir-se na esfera social totalmente consciente de seu verdadeiro papel na sociedade. Mas a estrutura educacional que aí está não oferece as condições necessárias e limita o estudante a um aprendizado de baixa qualidade, tanto na formação pessoal, quanto na profissional, e assim este estudante acaba enfrentando sérias dificuldades para cumprir seu verdadeiro papel social.

Foi com base nas dificuldades que as instituições de ensino enfrentam neste complexo sistema de educação vigente que a professora Vera Maria Candau, a partir de suas reflexões acerca do sistema de ensino, procurou encontrar uma forma em que a educação se tornasse mais efetiva e pudesse oferecer aos estudantes, seja nas instituições de ensino da educação básica, seja na formação superior, um aprendizado mais qualificado e eficiente. E, segundo Vera Candau, para que a educação escolar possa levar aos estudantes uma educação mais qualificada e eficiente, o ideal é investir na formação e qualificação dos profissionais que trabalham em sala de aula, ou seja, os educadores.


FORMAÇÃO DOCENTE


A Formação continuada de professores(as) é, sem dúvida alguma, um elemento indispensável na vida profissional do educador e tem um grau de importância imenso na esfera educacional. As discussões acerca deste tema são fundamentais para construir uma educação escolar com êxito. Mas, no contexto formação continuada, se questiona e frequentemente ocorrem críticas, especialmente à formação inicial de professores(as), com a alegação de que falta articulação entre a teoria e a prática no desenvolvimento formativo destes docentes. “A teoria e a prática educativa, neste enfoque, são consideradas o núcleo articulador na formação do educador, na medida em que os dois polos devem ser trabalhados simultaneamente, constituindo uma unidade indissolúvel” (CANDAU; LELLIS, 2013, p. 68).

A formação continuada de professores(as) representa uma vida inteira de estudos, pois antes mesmo do ingresso no universo acadêmico, a formação oferece a possibilidade de uma reflexão crítica acerca das experiências vividas na escola regular, pré-escola, ensino fundamental e médio. Esse período estudantil é de suma importância na formação continuada do professor(a) porque é na educação escolar básica que o perfil do estudante começa a se desenvolver. Dessa forma, o ideal é que o professor(a) se utilize destas experiências e as transforme em instrumento que possa auxiliá-lo no seu processo de formação continuada e na sua vida profissional.

O processo de formação escolar só será concretizado se iniciar na educação infantil, passar pelo adolescente, chegar ao jovem, continuar no adulto e se estender pela vida inteira. Mas alguns fatores influenciam e são decisivos na vida profissional dos educadores em sala de aula. As práticas educativas inadequadas e ultrapassadas, por exemplo, impedem a construção de metodologias alternativas, fator indispensável na formação docente atual. Novas metodologias são fundamentais no dia-a-dia do professor(a) em sala de aula. “A educação é vista fundamentalmente como um processo de crescimento pessoal” (CANDAU, 2013, p. 52), porque os estudantes da atualidade, aparentemente, demonstram maior interação na escola, em relação aos das gerações passadas.


Gostaria de destacar em relação essa nova configuração duas características. A primeira é que ela se faz tentando construir uma nova postura, onde o confronto com diferentes correntes pedagógicas é fundamental. Então essa nova postura vai sendo construída, de alguma forma, em confronto com o que costuma-se chamar pedagogia tradicional. (CANDAU, 2013, p. 30)


A educação escolar tem como pilar central o ambiente escolar, porque lá é o espaço ideal e mais adequado para a construção de um novo jeito de pensar e agir do ser humano. Mas o simples fato de estar em um ambiente escolar não significa o desenvolvimento de uma prática formativa concreta, capaz de garantir condições que mobilize o estudante a compreender a importância da educação escolar. É necessário que o professor(a) faça uma profunda reflexão e consiga identificar os problemas que existem no contexto social, especialmente na sala de aula. Essa é uma tarefa difícil para o educador, mas os programas de formação devem ser estruturados em torno de problemas e projetos de ação ligados à escola e à sociedade.


No que diz respeito à relação educação-sociedade, a reflexão pedagógica e inúmeros dados de pesquisas realizados nos últimos anos questionaram fortemente a visão tradicional e talvez ainda vigente em vários setores da sociedade, que consideram educação um fator básico de transformação social. (CANDAU, 2013, p. 49)


Outro fator importante na formação continuada do(a) professor(a) são as práticas coletivas aplicadas na esfera escolar. Uma escola de ensino regular, por exemplo, em geral é constituída de uma coordenação, supervisão, orientação pedagógica e professores, um conjunto de profissionais da educação conhecidos como corpo docente. Podemos fazer uma analogia os corpos humano e docente: o corpo humano é constituído de vários órgãos em que cada um deles tem sua função, mas devem trabalhar em conjunto para que esse corpo se mantenha de pé. Da mesma forma, cada setor do corpo docente tem sua função, mas tem de trabalhar de forma conjunta e harmoniosa. Isso é trabalho coletivo, e a coletividade tem um papel fundamental no processo de formação escolar.


Hoje, mais do que nunca, não podemos pensar em saídas individuais, a partir de vontades particulares. A existência de uma escola que tenha um projeto articulado, que funcione de modo eficaz, passa necessariamente pela construção de uma prática coletiva, por um sentimento de solidariedade entre professores. (LELLIS apud CANDAU, 2013, p. 87-88)


A prática coletiva, construída por um determinado grupo de educadores(as) ou por todo o corpo docente de uma instituição escolar, tem uma importância fundamental, como mencionado no parágrafo anterior. Mas, paralelamente à coletividade, um fator extremamente relevante, é criar, no contexto coletivo, uma consciência que leve o educador à renovação metodológica. Novas metodologias podem produzir no educador um novo modo de ver e refletir sobre a vida e a sociedade, sem ficar preso ao cumprimento de normas, mas promover ações que ajudem o estudante a ser criativo. A incorporação de elementos como renovação e criatividade fazem a diferença para o sucesso da educação humana.


Os estudos analisam a prática educativa existente e propõe experimentos comparando diferentes metodologias e verificando seus efeitos sobre os resultados da aprendizagem. Em geral, são trabalhos de caráter experimental ou que utilizam amplamente métodos de observação e aquisição. (CANDAU, 2013, p. 52)


Existem professores(as) conservadores que não conseguem se autoeducar e assim encontram dificuldades para inserirem-se no contexto social que se apresenta atualmente, bem como interagirem com os demais colegas de profissão. A formação continuada deixa a desejar, tendo em vista que a evolução sociocultural ocorre muito rapidamente. Muitos professores, especialmente os da Escola de Educação Básica, não dispõem de tempo suficiente para fazer uma formação adequada, porque na escola são professores, pai/mãe, médicos, psicólogos e assim por diante.

Fazer educação significa dizer que o(a) educador(a) deverá passar por um processo de formação continuada, em que a noção de formação humana deve estar sempre pautada em temas e abordagens que se referem a renovações metodológicas. Mas estes temas e abordagens precisam estar atrelados a uma profunda reflexão crítica acerca dos conhecimentos e práticas aplicados na escola. “A educação, a escola, o fazer escolar, tem se apresentado, em diferentes momentos históricos, como objetos de reflexão e análise” (CANDAU, 2013, p. 95), razão pela qual é importante que a interação entre os profissionais da educação, professores e gestores das instituições de ensino ocupem este mesmo espaço para fazerem essa reflexão crítica.


CONCLUSÃO


Mas é possível fazer educação com eficiência e qualidade no Brasil? Da forma como está estruturado o sistema educacional atualmente, possivelmente não! E vários fatores contribuem para uma educação ineficiente e de baixa qualidade no país. Falta a alguns(mas) professores(as) uma preparação adequada que possa torna-los(las) capazes de desenvolver uma educação adequada ao perfil do estudante atual. E isso se deve tanto a uma estrutura educacional defasada, quanto ao comportamento de alguns profissionais que constituem o corpo docente das escolas.

A falta de planejamento também compromete o bom desempenho escolar, como é o caso da redução da carga horária de disciplinas humanistas e a tentativa de exclusão de algumas disciplinas da grade curricular, conforme previsto na medida provisória nº 746 de 02/09/16, implantada pelo atual presidente do Brasil e sancionada pelo mesmo em 16/02/17, que parece não ser o ideal para uma educação de qualidade. De certa forma, estas mudanças tendem a impedir que o cidadão adquira uma formação pessoal com excelência. São os temas das áreas humanistas, como filosofia, sociologia e outras, que contribuem para a formação intelectual do ser humano, tornando-o consciente, e que o leva a compreender o verdadeiro sentido do papel formativo da escola.

A formação para o aumento da força de produção com base em cursos profissionalizantes em escolas de educação básica também parece não ser benéfico para a educação, pois favorece apenas os setores de bens de consumo e os grandes grupos empresariais, causando prejuízo à formação pessoal e intelectual do indivíduo. Nada impede que no ambiente escolar o aluno possa desenvolver atividades profissionalizantes paralelamente à sua formação intelectual, mas não é necessariamente uma prioridade. O ideal é que, em primeiro lugar, fosse feita a formação pessoal e intelectual, e depois a profissional. Assim, talvez fosse possível oferecer uma educação com mais qualidade e eficiência.

Outras duas propostas para a reforma educacional que preocupa a comunidade escolar são a implementação da escola em período integral e a permissão para que o aluno escolha o que é melhor para a sua educação. A educação em tempo integral é sem dúvida alguma de extrema importância no processo formativo do cidadão, porque, além da formação pessoal e intelectual, ele vai desenvolver também atividades culturais, esportivas e outras. Mas, para realizar essa modalidade de educação, o sistema educacional precisa estar devidamente estruturado qualitativamente e quantitativamente, no mínimo em dois aspectos: espaço físico estruturado e educadores(as) bem preparados(as). Quanto ao aluno escolher o que é melhor para sua educação, não significa que ele seja incapaz de tais ações, mas parece que a responsabilidade do planejamento educacional está sendo transferido para os estudantes.

Diante da realidade atual, parece que existe apenas uma saída para que se possa fazer educação com qualidade e eficiência. Planejar, definir e elaborar projetos adequados a uma educação voltada para o perfil do estudante da atualidade. Promover reforma apenas no ensino médio talvez não seja o melhor caminho para que a educação se traduza em bons resultados para a formação intelectual. O ideal é que, lá na pré-escola, a criança já comece a ter noção de cidadania, aprimorando esses conhecimentos no ensino fundamental, para que, quando chegar ao ensino médio, possa estar consciente do seu papel de cidadão. Se educadores, estudantes e a comunidade em geral trabalharem de forma coletiva, esta possibilidade pode se tornar realidade.

REFERÊNCIAS

CANDAU, Vera Maria (Org). Rumo a uma nova didática. 23. Ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

Notas

[1] Acadêmico do nono período do curso de Licenciatura em Filosofia da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). E-mail: dissil.adair@gmail.com.






o Projeto cultura pensante

O projeto "Cultura Pensante" é um movimento criado por integrantes do Centro Acadêmico de Filosofia (CAFIL) do Campus Chapecó da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), vinculando-se a este órgão representativo, com o objetivo de criar e divulgar cultura.  O projeto engloba, de um lado, a criação e divulgação e atividades culturais, e, de outro, a divulgação a um público externo da síntese dos conhecimentos construídos pelo projeto por meio da revista digital sediada nesse espaço.

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