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O existencialismo de Jean-Paul Sartre

O EXISTENCIALISMO DE JEAN-PAUL SARTRE


Carolina Aparecida dos Santos [1]



Neste texto, discutiremos se as estruturas naturais, culturais ou políticas são deterministas e se interferem na liberdade apresentada pelo Existencialismo de Jean-Paul Sartre. E o que o Filosofo conclui sobre o existencialismo, que considera o ser humano como um tipo de indivíduo “centrado em si mesmo”. Começaremos essa narrativa com o trecho de Sartre.

“A existência precede e governa a essência”. (SARTRE, 1946, p 213). Partimos desse fragmento para destacar, como já vimos em Sartre, que o existencialismo é uma liberdade em que cada indivíduo é dono de seus atos e, dessa forma, nega uma natureza humana determinista (estruturas naturais, culturais ou políticas). Portanto, cada indivíduo produz a sua essência, cada um é o que faz dele mesmo.

Diante desta afirmação de liberdade apresentada, as escolhas feitas pelos indivíduos já não estão embutidas dentro de estruturas para defini-los como sujeitos?

A liberdade como conceito e como existência do homem foi abordada por Sartre num contexto em que se acreditava que os indivíduos estavam submetidos a uma ordem política ou religiosa.

Sartre desmonta esse questionamento através do argumento segundo o qual indivíduos inseridos em estruturas que possam determinar algumas situações são ainda capazes de partir das situações presentes para escolher suas próprias ações. O ser humano é responsável por suas ações, e é neste ponto que a liberdade se encaixa junto com a existência. Indiferente de como o indivíduo está inserido no contexto, a partir desta realidade, ele tem escolhas livres para determinar o seu projeto.

Por essa perspectiva, cada indivíduo é responsável por seus atos e escolhas sem justificativas ou desculpas para apoiá-los.

Evidencia-se, em Sartre, que o que nos separa das estruturas deterministas é a liberdade, condição de existência humana, que cada indivíduo possui. O ser humano se forma a partir de escolhas que projeta para si, e a partir destas constrói valores:


Com efeito, sou um existente que aprende sua liberdade através de seus atos; mas sou também um existente cuja existência individual e única temporaliza-se como liberdade [...] assim, minha liberdade está perpetuamente em questão em meu ser; não se trata de uma qualidade sobreposta ou uma propriedade de minha natureza; é bem precisamente a textura de meu ser... (SARTRE, 1998, p. 542/543).


Diante destas perspectivas, podemos pensar que o existencialismo considera o ser humano como um tipo de indivíduo “centrado em si mesmo”, “egocêntrico” ou “solipsista”, uma vez que é ele que define o quê e quem ele é segundo sua liberdade?

Em Sartre, podemos adquirir a noção de que o indivíduo, ao fazer escolhas, considera sempre a opção que possa beneficiar e que seja ideal para todos. O ser humano livre possui consciência que as escolhas trazem responsabilidades e inclui os que estão a sua volta. Pode-se dizer que


[...] a sua liberdade o une a sociedade, tornando-o responsável porque escolhe o tipo de homem que deseja ser, e, como os demais devem ser. as escolhas provocam o sentimento de responsabilidade, o que traz angústia ao perceber que é o responsável por si e, na mesma medida, por todo o mundo. (SILVA, 2013).


A filosofia existencialista não incentiva ao egocentrismo. Ao escolher seu projeto, o ser humano avalia o que é bom ou não. Para o Filósofo, a escolha corrobora com o valor contido na ação que foi escolhida. A escolha é sempre pela ação que ira gerar benefícios, e nada pode ser bom para um indivíduo que não possa ser bom para todos. Isso prova o comprometimento do indivíduo para com os demais. Observa-se no trecho abaixo:

[...] o homem ligado por um compromisso e que se dá conta de que não é apenas aquele que escolhe ser, mas de que é também um legislador pronto a escolher, ao mesmo tempo que a si próprio, a humanidade inteira, não poderia escapar ao sentimento da sua total e profunda responsabilidade. (SARTRE, 1978a, p. 7).


Em síntese, o Existencialismo de Sartre é intimamente ligado à questão da liberdade do ser humano, o homem materializa seus projetos mediante suas escolhas. Para Sartre, o homem vive o projeto que designar para si mesmo. A noção de estruturas deterministas de uma natureza humana está presente, mas o Filósofo considera que as escolhas advêm da situação em que o indivíduo está inserido, e a partir disso ele terá a possibilidade de escolher o caminho que irá seguir. E, ao traçar seu caminho por meio de escolhas, sempre escolherá o que melhor beneficiar não somente o indivíduo com a todos, pois não há como escolher aquilo que não é considerado como o que é o bem. Não importa o que a vida fez de você, mas o que você fez com o que a vida fez de você.


Referências

OLIVEIRA, Terezinha; BOVETO, Lais. “O homem é o senhor de suas ações”: a concepção de escolha em Tomás de Aquino e Jean-Paul Sartre. Filosofia Unisinos, 13(3):422-431, sep/dec. 2012. Acesso em: 3 de outubro de 2017. Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/filosofia/article/viewFile/fsu.2012.133.06/1232


SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Trad. Vergílio Ferreira. São Paulo: Abril Cultural, [1946]. (Os Pensadores)


SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenologia. 3. ed.

Petrópolis: Vozes, 1997. Acesso em: 03 de outubro de 2017. Disponível em: http://www.netmundi.org/home/wp-content/uploads/2017/07/O-Ser-e-o-Nada-texto.pdf


SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Tradução: Vergílio Ferreira. São Paulo: Abril S.A., 1973.


SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada – ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução: Paulo Perdigão. 6 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 782.


SILVA. A. M. V. B. A concepção de liberdade em Sartre. Revista Filogênese, v. 6, n. 1, 2013. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Acesso em: 03 de outubro de 2017. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/FILOGENESE/alinesilva.pdf


Notas

[1] Acadêmica do curso de licenciatura em Filosofia da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Chapecó. E-mail: carolinaas88@hotmail.com

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O projeto "Cultura Pensante" é um movimento criado por integrantes do Centro Acadêmico de Filosofia (CAFIL) do Campus Chapecó da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), vinculando-se a este órgão representativo, com o objetivo de criar e divulgar cultura.  O projeto engloba, de um lado, a criação e divulgação e atividades culturais, e, de outro, a divulgação a um público externo da síntese dos conhecimentos construídos pelo projeto por meio da revista digital sediada nesse espaço.

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