Como Schopenhauer entende a ética e a estética?
COMO SCHOPENHAUER ENTENDE A ÉTICA E A ESTÉTICA?
Carolina Aparecida dos Santos [1]
Schopenhauer tem sua primeira influencia estética em Kant, pela Estética Transcendental, e a segunda em Platão, pela Teoria das formas. Previamente, Schopenhauer, é levado a admitir que mundo que nos é apresentado, por meio dos sentidos, não passam de fenômenos de uma realidade. Desta forma, o que se apresenta pelos sentidos/fenômenos são apenas aparência de uma essência que se encontra além de nossa compreensão.
Assim, Schopenhauer, afirma que nossa realidade vivenciada pelos sentidos é mera ilusão. Compactua com Platão ao referir que a essência das coisas do mundo são as ideias dos próprios objetos. Portanto, se as ideias são as verdadeiras essências, o que encontramos no mundo material não passa de cópia das ideias, sombras ou aparências.
E para, atingir um conhecimento superior, Schopenhauer, entende que as verdadeiras e genuínas obras de arte podem guiar o acesso às essências dos objetos do mundo; visto que, quando contemplamos uma obra de arte vamos transcender o conhecimento comum das aparências e chegar a um conhecimento superior. Isto posto, por meio da contemplação das obras de arte é possível acessar um conhecimento superior àquele que temos dos objetos do mundo. Por consequência, a estética de Schopenhauer é compreendida como um meio para se chegar a um conhecimento elevado e conhecer as verdadeiras essências das coisas do mundo.
Além de conhecer, por meio da arte, as verdadeiras essências das coisas do mundo, o Filósofo entende que a arte possui outra função também importante, que é a de permitir que o ser humano se livre das vontades enquanto contempla. Em suma, na contemplação estética há uma privação da existência particular. É nesse momento de contemplação que o ser humano se livra dos sofrimentos e vontades individuais e almeja a libertação duradoura.
Como resultado, a arte serve de preâmbulo da negação da vontade, que inicia por meio da contemplação estética, depois passa pela ética e chega no estado máximo de negação da vontade. Para chegar a um estágio de negação da vontade mais significativo, é necessário lançar-se para o estágio ético.
Ao contrário da estética de Schopenhauer que foi influenciada por Kant, a sua ética vem para rebater ou criticar a ética kantiana. Em Kant, o agir moral advém da liberdade de escolha. O ser humano deve ser livre para fazer suas escolhas, ou seja, a autonomia da vontade é o único princípio de todas as leis morais e dos deveres correspondentes a elas.
Já Schopenhauer escrever que a ocupação da ética é de descrever o modo das ações humanas, visto que prescrever leis, para a conduta dos seres humanos, é algo inviável, uma vez que os seres humanos não são livres para agir. Para Schopenhauer, a razão é apenas um instrumento da vontade de viver, e, assim, se encontra subordinada à vontade, aos interesses e às motivações sensíveis.
Em Schopenhauer, toda ação humana é determinada antecipadamente sem o advento da liberdade de agir correta ou incorretamente. O Filósofo entende que todos os seres humanos possuem um caráter que é a forma na qual se instancia. Esse caráter é inato. Ou seja, cada ser humano nasce com um caráter que é diferente dos demais, e isso faz com que cada um seja diferente dos outros, e é por essa razão que cada um age de uma forma.
Schopenhauer escreve que o caráter é o que cada ser humano possui de mais íntimo, é o que distingue uns dos outros. Há três disposições fundamentais do caráter de cada ser humano, que são: egoísmo, maldade ou compaixão. Em suas observações empíricas, Schopenhauer identificou que o agir se dá de acordo com esses três motivos, respectivamente: procurar o próprio bem-estar (egoísmo), procurar infligir dor e dano aos outros (maldade) e procurar aliviar o sofrimento dos outros (compaixão).
O Filósofo entende que o egoísmo não é motivo moral, visto que todo o ser humano busca o bem-estar instintivamente. O agir por maldade tampouco deve ser descrito como ação moral já que o querer mal é o contrário de uma boa ação. Assim, sobra a compaixão, em que as ações são realizadas com vistas ao bem-estar dos outros. Esta sim é tida como ação virtuosa.
Schopenhauer cita que a tarefa da ética é descrever o agir moral humano e não prescrever leis, como firmava Kant. A tarefa da ética é apresentar o que é a virtude, e não induzir os homens, dado que é impossível obrigar um indivíduo a agir de forma virtuosa. Unicamente se pode ameaçá-lo com punições.
Notas
[1] Acadêmica do curso de licenciatura em Filosofia da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Chapecó. E-mail: carolinaas88@hotmail.com
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