A Dialética na antiguidade com foco na dialética de Aristóteles
A DIALÉTICA NA ANTIGUIDADE COM FOCO NA DIALÉTICA DE ARISTÓTELES
Dionathan Tomasi(i)
RESUMO A dialética é uma ferramenta da filosofia usada desde a antiguidade, desde então um instrumento para entender o mundo. Em Aristóteles ela possui o rigor lógico, ela é um raciocínio para a apreensão da verdade. A dialética será a arte para se levantar e confrontar argumentos, para buscar os princípios primeiros, ela será uma arma das ciências filosóficas para a busca da verdade. Palavras-chave: Dialética, Aristóteles, Raciocínio.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo fazer um breve resumo histórico da dialética antiga, começando por Sócrates, seguindo para Platão e, por fim, seu discípulo Aristóteles, que é o foco desta pesquisa. Objetiva-se fazer uma análise de como o filósofo entende a dialética e qual o uso que ele faz dela para buscar as bases do conhecimento, ou seja, os princípios primeiros da episteme, para que assim a partir de silogismos se possa deduzir um conhecimento científico.
DIALÉTICA
A origem etimológica da palavra dialética é o grego dialektike, que significa uma discussão ou conversa por meio de perguntas e respostas, habilidade para argumentar e um método para se chegar ao conhecimento. Sócrates desenvolveu o método chamado de dialética, Sócrates a dividiu em ironia e maiêutica. Ele dizia que seu método dialético era semelhante a parir crianças, que, analogamente com uma parteira, Sócrates daria luz; não a bebês, mas sim a ideias, e assim adentraria em novos conhecimentos. O foco aqui é que, analogamente, a parteira Sócrates não dá luz a ideia, mas ajuda os seus interlocutores a praticarem tal exercício. Platão foi discípulo de Sócrates e escreveu todos os diálogos usando seu mestre como personagem nas obras para divulgar as ideias que Sócrates construiu e mais tarde as suas próprias. Nos diálogos Sócrates sempre é o personagem que diz não saber nada e pede para que os outros exponham suas ideias. Feito isso, Sócrates usa do método dialético para desconstruir as teses dos outros personagens, fazendo com que eles cheguem a contradições em suas próprias ideias, ao reductio ad absurdum. Com as teses derrubadas, os diálogos geralmente terminam em aporias, ou seja, becos sem saída, ainda com dúvidas a respeito daquilo que se buscava inicialmente. Platão foi o primeiro filósofo a desenvolver o conceito de dialética. Segundo ele, a dialética é um instrumento para alcançar a verdade, é o diálogo da alma consigo mesma para assim subir os níveis de realidade e alcançar o mundo inteligível, as ideias que formam toda a realidade do mundo sensível. Aristóteles foi discípulo de Platão, porém discordava de seu mestre. Para ele a dialética é o método de aplicação da lógica formal para a apreensão da verdade. Para Aristóteles, a dialética é uma forma de raciocínio, e um raciocínio é um discurso. A partir disso, conclui-se que a dialética é uma forma de se adquirir o conhecimento e que o raciocínio dialético é a dialética propriamente dita. Segundo Aristóteles, existem dois tipos de raciocínio: o demonstrativo e o dialético. O demonstrativo tem como característica principal o rigor lógico e o embasamento em premissas primeiras, também ditas como axiomas. O problema desse tipo de raciocínio é encontrar essas premissas primeiras, pois elas não poderiam ser derivadas de nenhum outro silogismo. O raciocínio dialético também necessita do rigor lógico, porém ele não se baseia em axiomas, mas sim em endoxas. Esta é uma palavra derivada do termo grego doxa, que significa opinião. Assim, nesse sentido, endoxa seria uma boa opinião. A palavra opinião pode ensejar um sentido de falsidade, como algo que não segue nenhum método e, é, portanto, digno do senso comum. Porém Aristóteles estabelece regras bem claras para saber se uma premissa é realmente plausível (endoxa). Para ele, endoxa é uma premissa aceita pela maioria das pessoas; se não por elas, pelos sábios; se não por todos, pela maioria; e, se ainda não houver uma maioria, a que é aceita pelos mais famosos e influentes sábios. Outro tipo de raciocínio ainda é o raciocínio erístico. Porém, esse apresenta a ausência de observação das leis lógicas. É uma prática usada apenas para ganhar a argumentação e não alcançar a verdade. Esse raciocínio era praticado na antiguidade pelos sofistas. Sofistas eram educadores que negavam a existência da verdade e que cobravam para ensinar aos homens a arte da retórica, não para que estes usassem a favor da pólis, mas sim em favor de si mesmos. Os filósofos eram os que faziam uso da dialética e mostravam que a sabedoria não consistia apenas em falar bem e saber argumentar, mas sim em buscar a verdade, para purificar a alma de sua ignorância e contribuir para a pólis atingindo a harmonia em sociedade. Mais um uso da dialética na antiguidade é a dialegesthai, um jogo realizado em praça pública. No jogo, um orador expõe uma tese e um segundo orador faz perguntas ao primeiro. O objetivo deste segundo é fazer o primeiro cair em contradição. Esta é a base do raciocínio dialético, comprovar um argumento por meio da refutação de um argumento oposto, respeitando a lei da não-contradição. Assim, se a tese resistir às perguntas, é um raciocínio válido; se for provado que seu oposto é valido, ele cai em contradição e a tese inicial é refutada. Para Aristóteles, a dialética é um método através do qual podemos raciocinar sobre todos os problemas que enfrentamos, a partir de coisas plausíveis, ou seja, endoxas. O uso mais importante que o filósofo faz da dialética é o relativo às “ciências filosóficas”. Este uso da dialética é para fugir das aporias, literalmente becos sem saída, muito comuns nos diálogos de Platão. Este método distingue o verdadeiro do falso, tem como objetivo conhecer e verificar todas as conclusões possíveis a que se pode chegar e medir o valor de cada uma. Há, nesse ponto, o uso cognitivo da dialética na investigação dos opostos. Nas palavras de Berti,
[…]investigar os opostos significa, com efeito, estabelecer o valor de verdade ou falsidade, das duas soluções opostas a uma mesma aporia, o que Platão faz deduzindo as consequências que derivam de ambas para ver quais levam a conclusões impossíveis e quais, ao contrário, não. Tudo isso pode ser feito “independentemente da essência”, isto é, sem pressupor o conhecimento dos princípios, porque não se trata de uma racionalidade apodíctica, mas de uma racionalidade dialética, mesmo em seu uso cognitivo. (BERTI, 1998, p. 37.)
Segundo Berti, há uma diferença entre a dialética praticada por Platão e uma forma mais forte, praticada por Aristóteles, a qual é apresentada em um trecho da Metafísica (XIII 4, 1078 b 23-27), em que o estagirita diz que no tempo de Platão a dialética não havia encontrado um jeito de investigar que não fosse investigar a essência. Mas, em seu tempo, Aristóteles pode investigar não as aporias referentes à essência, mas independentemente destas. Esse caráter da dialética, que é o confrontar de opiniões, é uma espécie de diálogo que corresponde a um procedimento crítico. A crítica é uma espécie de dialética e uma de suas formas mais importantes. A crítica não é uma ciência, com objeto de estudo, mas uma arte, que qualquer pessoa pode ter em posse, até mesmo os ignorantes. A importância da crítica está no fortalecimento das opiniões, na ciência só podemos partir daquilo que é aceito como princípio. A crítica nos conduz ao discurso científico. A crítica dos grandes sistemas, dos grandes filósofos, das grandes opiniões e teses resulta numa atividade fundamental da dialética. Em Aristóteles, a dialética tem uma clara função instrumental (órganon). É colocada no nível da obtenção da verdade. Ela é um meio para resolver as aporias, a ambiguidade da linguagem, levantar premissas, opiniões e confrontá-las. Assim a dialética de Aristóteles é a atividade suprema lógica de procura da verdade.
CONCLUSÃO
A dialética em Aristóteles serve para se chegar aos princípios primeiros, para treinar uma forma de conhecimento até superior à própria ciência. Ela serve às ciências filosóficas na distinção entre verdadeiro e falso, para se buscar o conhecimento independentemente da essência, fugindo das aporias. E sua força é mostrada quando se apresenta diante da oposição e serve como critério para julgar se determinada hipótese é uma afirmação ou um princípio plausível.
REFERÊNCIAS
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