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Sobre a ocupação e a suspensão das aulas na UFFS

Em vista dos acontecimentos da última semana aqui na UFFS campus Chapecó, nós do curso de Filosofia e do corpo editorial da revista Cultura Pensante, pensamos em fazer esta matéria no intuito de informar a todos – em síntese – sobre o que ocorreu. É evidente que corremos o risco de deixar alguns pontos passarem em branco diante da grande quantidade de coisas que aconteceram, e assumimos responsabilidade por qualquer informação incompleta ou equivocada, pedindo gentilmente que nos corrijam, se for o caso. Em primeiro lugar, alguns pontos importantes devem ser avaliados com mais atenção. O primeiro deles diz respeito às aulas, que desde a ocupação na noite do dia 26 de outubro vem sendo interrompidas pelos membros da ocupação. Neste caso, é importante salientar que esta ação não foi pensada com vistas a prejudicar os alunos que queriam ter aula, mas sim para não prejudicar nenhum aluno. Explicamos: se nenhum aluno tiver em sala, o professor não tem como dar a aula (se ele der, procure a ouvidoria da universidade e faça uma reclamação), e se a aula não for contabilizada, ela deve ser reposta em algum momento. Há professores dando aulas de qualquer jeito, com único intuito de fechar o calendário a tempo para suas férias, e pedimos aos alunos que estão tendo tais aulas que fiquem atentos, pois podem estar perdendo conteúdo devido à indiferença de alguns professores quanto à qualidade do ensino. Além disso, outro aspecto deve ser ressaltado ainda a respeito disso: se algum aluno estiver em sala de aula, ou alguns, o professor – nos parece – é obrigado a dar a aula, e assim os demais alunos que estão engajados em atividades na ocupação são prejudicados por uma parte que está mais preocupada com o semestre do que com o desastre político que nos atinge por todos os lados atualmente. Em vistas deste conflito declarado, entre aqueles que por um lado exigem ter aulas (independentemente dos motivos que os levam a declarar tal desejo) e aqueles que estão engajados na ocupação, pedindo a paralisação total da universidade, a categoria dos docentes se reuniu nessa quinta-feira dia 3 de novembro para decidir se aderia ou não à greve. Deve-se lembrar que as outras duas categorias (TAEs e discentes) já estavam paralisados há um bom tempo, enquanto os professores estavam demorando para tomar uma posição. Entretanto, voltando ao contexto da assembleia, tanto discentes quanto TAEs estavam na expectativa de que a categoria docente aderisse à greve, e fizeram de tudo para sensibilizá-los nos dias que precederam a assembleia no qual seria decidida a posição do grupo em relação à greve. Mensagens como “não nos calem!”, “o que são 6 meses em comparação com 20 anos?!” e pedidos por imparcialidade (no sentido de que os professores decidam de forma altruísta, e não egoísta) figuram entre as reivindicações dos alunos. Para que ficasse bem evidente a quem a mordaça do projeto de lei Escola sem Partido iria calar, os alunos se vestiram de preto, colocaram mordaças em suas bocas, e fizeram um corredor humano conduzindo os docentes da entrada do Bloco A até o auditório onde se daria a reunião. Alguns professores se sentiram intimidados por isso, mas acreditamos que – e agora falamos como discentes e futuros professores – que diante de uma aparente apatia, este foi um dos únicos meios de fazê-los se sentirem do mesmo jeito que nos sentimos diante da PEC 55 (antiga PEC 241), da reforme do ensino médio, e do projeto de lei Escola sem Partido.


Acima: foto do corredor humano tirada pela aluna Aline Simões. Abaixo: foto do corredor humano de outro ângulo, por Vinícius Pacine.

Já na assembleia, que estava lotada tanto por docentes, quanto por TAEs e alunos, houve debate acerca de aderir ou não à greve. Entre as várias propostas apresentadas, duas prevaleceram como síntese de duas posições contrárias: alguns professores propuseram aderir à greve e fazer mobilização, e alguns professores propuseram não aderir à greve, e fazer algum tipo de mobilização. Esta última merece atenção especial devido ao teor absurdo de sua proposta que logo mais se fará evidente. Entre as consequências imediatas de tal proposta, figuram algumas coisas que são difíceis de entender: 1) se a universidade está ocupada pelos alunos, são os alunos que decidem o que vai acontecer, se vai ter aula, quando vai ter aula, e etc; 2) a partir do momento em que os docentes decidem por não aderir à greve, podemos concluir que o calendário continuará rolando, e que as aulas devem acontecer; 3) o problema é o seguinte: como essas aulas vão acontecer? Os professores vão passar por cima dos alunos? Chamar os pais deles para conversar? Mandar e-mail para a turma e dizer que os professores, como tutores dos alunos, decidiram por eles e querem que eles saiam? Desde quando esta ocupação é um movimento cujo qual os professores decidem os rumos? Fazemos nossa a fala de alguns professores favoráveis à greve: “nós docentes, enquanto categoria, não temos voz para decidir o que a outra categoria [dos discentes] deve fazer. Se nossa greve é legítima, a deles também é”. Querer regular a vida dos alunos é violar a autonomia destes enquanto alunos. Não adianta durante a graduação insistir que os alunos saibam escolher e pensar por si próprios, e na hora que eles fazem isso, querer decidir por eles, ou, no caso dos alunos, esperar que os professores façam escolhas que cabem somente aos alunos. Ainda a respeito das propostas dos que se mostraram contrários à adesão à greve, surgiu uma proposta de fazer com que as atividades da ocupação (aulas públicas, oficinas, etc) fossem de algum modo validados como elementos da disciplina. Deste modo, segundo a proposta, os alunos subiriam para suas salas, teriam mais ou menos meia-hora de aula, e depois iriam para as atividades, deste modo “não comprometendo o calendário”. Entretanto, fazem-se evidente vários problemas: 1) como os professores vão fazer os alunos subir para as salas? Passando por cima da ocupação? Já não ficou claro o suficiente que não vamos ceder quanto a isso? 2) segundo quem propôs esta proposta, é possível dar o conteúdo de quatro horas em meia-hora. Se a luta toda que empreendemos é contra a precarização do ensino, de que adianta dar uma aula “precarizada” de meia-hora sem reposição depois, apenas para fechar o calendário a tempo de aproveitar as férias já pagas? Um pouco mais de altruísmo, professores, por favor. Queremos ensino de qualidade, não aulas de meia-hora atropelando o conteúdo. Em resumo, esta é a proposta dos que votariam em contrário à greve: se percebe evidente o desrespeito pelos alunos, pela ocupação, e pelo ensino, independentemente das desculpas usadas por tais professores em defesa de seu argumento. Sobre a proposta que votava a favor da greve não precisa ser dito muito, já que se tal proposta fosse acatada, o conflito estaria eliminado, e as partes poderiam se dedicar ao diálogo e à construção de atividades com vistas à politização, conscientização e integração. Dito isso, podemos adiantar que o resultado da votação nos 6 campi não foi favorável à greve. Foram 155 votos favoráveis, e 156 votos contrários. Aos professores que votariam a favor da greve e não vieram por achar que ela seria deflagrada de qualquer modo, podemos dizer que, de certo modo, a culpa é de cada um de vocês. Vocês poderiam ter feito a diferença. Além do mais, não comparecer à votação por achar que ela já estava ganha é o mesmo que sair para pegar o ônibus contando com o atraso dele. Pois é, vocês perderam o ônibus. O que se sucedeu a isso foi óbvio. Todos, após a votação, esperavam os “meios alternativos” que em nenhum momento foram especificados, meios que eram em aparência milagrosos, já que de toda maneira ignorava totalmente a ocupação discente, como se a partir do momento que os professores votassem não pela greve, os alunos baixariam a cabeça e acatariam a decisão da categoria “sabidamente” superior.

Alunos em peso na assembleia dos professores usando mordaças de forma simbólica e protestando contra as medidas do governo. Fotos por Vinícius Pacine.

Na ausência imediata de soluções, os alunos se organizaram na quinta-feira à noite para reforçar a ocupação no dia seguinte, e decidiram impedir o acesso aos laboratórios e ao bloco dos professores. Reiteramos aqui que repudiamos totalmente os absurdos protagonizados por professores que: 1) obrigaram os alunos a ter aulas escondidas no bloco dos professores, seja no saguão fazendo prova no chão, ou dentro de suas salas, sem nenhuma condição de conduzir a aula; 2) fizeram uso – no caso, professores de Medicina – de laboratórios de OUTROS CURSOS (História e Ciências Sociais) – sem autorização. Que fique bem claro isso que acabou de ser dito. E por fim: 3) também repudiamos os professores que, na sexta-feira de manhã, em vista dos bloqueios nos laboratórios e bloco dos professores, teimaram em dar aulas escondido no RU. Também devemos repudiar a ação do aluno de Medicina contrário à ocupação que apareceu na universidade na sexta-feira de manhã com um facão bem visível na mochila. Depois dizem que os alunos na ocupação que são violentos. Enfim, foi nesse clima de tensão que a reunião do CONSUNI ocorreu por videoconferência nesta mesma manhã, na qual em decisão quase unânime (35 votos favoráveis e apenas 3 abstenções) as seguintes propostas foram aprovadas: 1) relativa ao campus Chapecó, foram suspensas as aulas (não o calendário acadêmico), com exceção das aulas de anatomia, já que possuem convênio com a Unochapecó, os estágios e as aulas práticas externas ao campus; 2) relativo aos campi Laranjeiras do Sul e Realeza, suspensão das aulas; 3) relativo aos 3 campi ocupados (Chapecó, Realeza e Laranjeiras do Sul), a reposição das aulas será negociada pela Reitoria de Pró-graduação e a direção de cada campus assim que a ocupação se encerrar. Deve ser lembrado que esta decisão, apesar de negociável, é dos alunos. Que isso fique bem claro.

Reunião do CONSUNI do dia 4 de novembro. Sala de conferências do bloco dos professores. Nota-se em especial a grande presença de alunos. Autor desconhecido.

Portanto, comunidade acadêmica, esta é a situação da nossa universidade: nos campi com ocupação e sem aulas, estas foram suspensas por tempo indeterminado, com reposição. Os demais campi continuam com as aulas normais, e nova reunião extraordinária do CONSUNI será chamada no caso de novas ocupações semelhantes às de Chapecó, Laranjeiras do Sul e Realeza. Reiteramos de novo que algumas aulas do campus Chapecó não estão suspensas devido aos contratos externos, mas as demais estão canceladas. O que não significa que os alunos estejam de férias, já que estão todos convidados para participarem das aulas públicas e das demais atividades realizadas na ocupação. Saliento também que todos os professores – principalmente os que votaram contra a greve – se comprometeram em chamar os alunos para as atividades. Não é hora de deixar que as medidas arbitrárias de um governo que quer tirar nossos direitos nos deixem confortáveis no sofá enquanto outras pessoas estão lutando por direitos que são nossos também.




o Projeto cultura pensante

O projeto "Cultura Pensante" é um movimento criado por integrantes do Centro Acadêmico de Filosofia (CAFIL) do Campus Chapecó da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), vinculando-se a este órgão representativo, com o objetivo de criar e divulgar cultura.  O projeto engloba, de um lado, a criação e divulgação e atividades culturais, e, de outro, a divulgação a um público externo da síntese dos conhecimentos construídos pelo projeto por meio da revista digital sediada nesse espaço.

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